08 fevereiro 2008

Quem falou sobre Teatro de Revista?

Agora que se fala do Teatro de Revista e da peça “Biografia dum Criôl”, em fase de produção, aproveitamos para deixar aqui alguma informação e um pouco de história sobre o género.
A Revista é um género de teatro, de gosto marcadamente popular, que teve alguma importância na história das artes cénicas, tanto no Brasil como em Portugal, que tinha como caracteres principais a apresentação de números musicais, apelo à sensualidade, à comédia leve com críticas sociais e políticas, e que teve seu auge em meados do século XX.


Em Portugal

Em termos gerais, consta de várias cenas de cariz cómico, satírico e de crítica política e social, com números musicais. É caracterizada também por um certo tom Kitsch - com bailarinos vestidos de forma mais ou menos exuberante (plumas e lantejoulas), além da forma própria de declamação do texto, algo estridente. Algumas revistas marcaram épocas – no Estado Novo português, por exemplo, o espectáculo de revista conseguia passar mensagens mais ou menos revolucionárias e de crítica ao regime vigente. Estão nessa situação algumas revistas protagonizadas, por exemplo, por Raul Solnado, no Parque Mayer - a “catedral da revista à portuguesa”.
Mas o grande nome da revista portuguesa, assim como de outros géneros musicais é o de Filipe La Féria que ultimamente apresentou grandes clássicos musicais como “Alice no País das Maravilhas”, “Música no Coração” e “Jesus Cristo Superstar”. Anteriormente, Filipe La Féria apresentara o que é geralmente conhecido como “revista à portuguesa”, espectáculos carregados de muito humor, sensualidade e exuberância. Um espectáculo do género que esteve muito em voga em Portugal nos últimos meses é o “Hip-Hop Parque” com João Baião e Marina Mota.


No Brasil

O Teatro de Revista no Brasil, também chamado simplesmente "Revista", e com produção das companhias como as de Walter Pinto e Carlos Machado , foi responsável pela revelação de inúmeros talentos no cenário cultural, desde a cantora luso-brasileira Carmen Miranda, sua irmã Aurora, às chamadas vedetes de imenso sucesso como Wilza Carla, Dercy Gonçalves, Elvira Pagã e outras - na variante conhecida como Teatro rebolado - e compositores do jaez de Dorival Cymmi, Assis Valente, Noel Rosa, etc.


Em Cabo Verde

Mesmo sem muita experiência teatral e sem qualquer formação de base, fez-se teatro de revista com qualidade no Éden-Park. Nomes como Mário Matos e Manuel Neves (Sr. Néna) deram vida a esse género das artes cénicas, fazendo um importante uso do humor crioulo e criticando o regime político e sócio cultural da época. Não era aquele teatro exuberante como o português e o brasileiro, mas era muito criativo e de qualidade inquestionável, aproveitando a criatividade dos artistas para a música, figurinos, cenografia, dramaturgia, etc.
A revista e o musical deixaram de ser géneros aproveitados em Cabo Verde durante muitos anos até, em 2006, a Sarron.com apresentar a peça “Um Vez Soncente Era Sábe” de Neu Lopes, com músicas originais, coreografia e muito humor, num São Vicente dos tempos áureos do Porto Grande.


Histórico

Seu início remonta a 1859 quando, no Rio de Janeiro, foi apresentada a peça "As Surpresas do Sr. José da Piedade", de Justiniano de Figueiredo Novaes, baseado nas operetas que então se apresentavam em França. O modelo carregava nas paródias e críticas de costume. E, como não poderia deixar de ser, sofriam críticas dos moralistas.

A Revista brasileira pode ser dividida em 3 fases distintas:

  1. A Revista do século XIX, que prende-se mais no texto que na encenação; tem seu ápice na obra de Artur Azevedo. A cada ano eram apresentadas revistas comentando os factos do ano anterior, numa retrospectiva crítica e bem-humorada. No coro, acompanha uma orquestra de cordas.
  2. Década de 20 e 30 – com incorporação da nudez feminina (introduzida pela companhia francesa Ba-ta-clan). A orquestra cede lugar a uma banda de jazz. Seu maior nome é o empresário teatral Manoel Pinto. As peças têm destaque igual para as paródias e para a encenação.
  3. Féerie – Realce para os elementos fantásticos da peça; Walter Pinto substitui, em 1938, a seu pai. Surgem as companhias. As apresentações tornam-se verdadeiros espetáculos, onde o luxo está presente em grandes coreografias, cenários e figurinos. Tornando-se cada vez mais apelativa, começa a decair, até praticamente desaparecer, no final dos anos 50 e começo da década seguinte.

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