A SARRON.COM é uma companhia que sempre primou pela salvaguarda dos valores culturais cabo-verdianos. Assim, até hoje apresentou peças de autores cabo-verdianos, neste caso, escritos pelos próprios elementos. Mas vêm aí adaptações e peças de dramaturgos nacionais. Queríamos apresentar mais uma peça dentro desse quadro para o Março, Mês do Teatro 2008. Neu Lopes discutia com o primo Júlio Fortes sobre uma possível peça a apresentar pela companhia. Júlio, então, avançou a ideia de apresentar uma peça baseada em músicas de Manuel d’Novas. É claro que a ideia era boa. Ainda por cima ficaria em família, uma vez que Neu é filho do compositor e Júlio sobrinho. Mas Júlio não contava com a ideia de Neu a transformar num musical. Assim, postas mão à obra, Neu começou a escrever o texto, tendo como base cerca de setenta composições de Manuel d’Novas. E nasceu assim “Biografia dum Criôl”, baseada sobretudo na morna de mesmo nome, mas contada e cantada através da longa carreira musical daquele que é o maior compositor cabo-verdiano de sempre.
Biografia dum Criôl é uma revista que retrata a vivência do crioulo de Mindelo, suas raízes, suas venturas e desventuras, conquistas e derrotas, sua vontade de emigrar e descobrir novas terras, a saudade, as frustrações e decepções, as partidas(1), bem como o que mais nos faz viver – a nossa paródia. Enfim, a nossa cabo-verdianidade.
Djón, Naiss, Frank e Djindja são quatro amigos inseparáveis. Conhecem-se durante sua infância/juventude e, juntos, vivem muitas aventuras, fazem peripécias, conquistam raparigas, apaixonam-se. Mas a vivência não se restringe às paródias e à vida boémia. Com o tempo a idade aperta e o dinheiro faz falta, pelo que tentam procurar emprego para melhorar de vida. Não vendo uma solução para suas vidas, Djón viaja para o estrangeiro e vai trabalhar num vapor grego. Naiss dá pinote num vapor atracado no porto e mais tarde fica-se a saber que teria desembarcado em Dacar , passando por Paris, Rotterdam e por aí além, enquanto que Frank e Djindja continuam sua vida no Mindelo. A experiência de Djón não é agradável e as saudades da terra e de sua “cretchêu”, Nhú são muitas. Naiss teve mais sorte, mas é um “gargantude” e “basôfe”. Com sentido oportunista deixa a namorada e envolve-se com uma professora, mas essa trai-o com um holandês e Naiss acaba aceitando um filho louro de olhos azuis.
São essas e outras as aventuras vividas por esses quatro homens/rapazes e todos os que o envolvem, numa cidade do Mindelo entre finais dos anos sessenta e os anos noventa.
(1) Peripécias
O Texto
Imaginem as mornas e coladeiras de Manuel d’Novas. Engraçadas, não é? Tentem metêlas todas juntas num liquidificador e juntem um pouco mais de tempero. Pois é mais ou menos isso o resultado do texto de Neu Lopes. O texto em “Biografia dum Criôl” é uma salada de textos e sua musicalidade com uma sequência lógica. Aliás, foram as músicas de Manuel d’Novas as únicas culpadas pelo surgimento dos personagens e situações que formam os três quadros desta peça.
No primeiro quadro a vivência e a amizade dos inseparáveis amigos introduzem o espectador à história de suas vidas. Desenvolvimentos importantes acontecem até o dia em que resolvem se separar e ir à procura de seus sonhos e de uma vida melhor.
O segundo quadro fala da emigração e do amadurecimento. A separação dos amigos é inevitável. A emigração bateu à porta, há dificuldades que surgem e a saudade aperta. Mas a vivência dos mindelenses continua a mesma.
O terceiro e último quadro traz a reunião dos inseparáveis amigos. Novas aventuras surgem mas a família, o valor á terra e à cultura se impõem, obrigando a todos a mudarem de atitude, contudo preservando seus valores.
O texto em “Biografia dum Criôl” é rico em palavras e expressões próprias e épicas de São Vicente. É claro que, para os mais jovens, surgirão palavras estranhas ou simplesmente engraçadas durante toda a peça. Assim, decidimos fazer uma recolha de algumas dessas palavras, dignas de serem relembradas e exploradas, principalmente pelo seu valor social e histórico.
O Cenário
O cenário é um trabalho conjunto, baseado no ambiente mindelense e num ambiente estrangeiro, em que os emigrandes fazem sua aparição, quer seja no trabalho, quer seja num momento de descontração.
Assim, foi criado um cenário móvel que acompanha as várias cenas, mudanças e complexidade de acção. A mudança cénica e iluminação acompanha sempreo ritmo da música e da própria peça, num ambiente de muita cor.
A coreografia
A coreografia também é um trabalho colectivo nascido nos ensaios. Porém, na música “Crioula” a troupe contou com o trabalho do Professor Alfredo, especialista em coreografia e danças de salão. Isso porque, em determinadas cenas há uma grande necessidade de cenas mais forjadas e com ritmo, para dar côr a qualquer musical ou revista.
O Guarda-roupa
Mais uma vez, Neu Lopes apresenta todo o desenho do figurino à companhia. Em “Biografia dum Criôl”, esse figurino foi baseado em modelos dos anos 60 a 90, incluindo roupas infantis. A equipa liderada por Manú Lopes, que também se ocupa dos adereços e da caracterização, é responsável por concratezar esse projecto que surgiu no seio da própria companhia.
A música
The last but not the least!
A música é soberana na peça. Há momentos com ambientes musicais retirados de registos de intérpretes já nossos conhecidos. Porém a música que se canta na peça teria que ser feita à altura dos seus intérpretes, pelo que teriam que ser gravadas para o efeito. Foi assim que surgiu um leque de bons músicos para dignificarem esse maravilhoso mundo Noviano.
Para começar, o pianista – Fernando Andrade. Ele é pianista e chefe de orquestra de Cesária Évora. Sobrinho do compositor, conhece sobejamente suas músicas desde criança, pelo que se sentiu completamente à vontade para estar à frente da interpretação e arranjo de boa parte das mornas e coladeiras. Para complementar entrou um leque de jovens músicos, na maioria filhos de músicos e intérpretes do Mindelo - Rossini Santos, Edson Lopes, Ivan Medina, Ivan Gomes, Cipi, Gibê, Jean Gomes e o próprio Neu Lopes que assinou também alguns arranjos, programação de sintetizadores, percussão e bateria e criação de ambientes sonoros.
História Teatral
UPGRADE (BÔ) DEMOCRACIA (de Alexandre Fonseca Soares) – 2006
UM VEZ SONCENTE ERA SÁBE (de Neu Lopes) – 2007
UM CINQUINTINHA? (de Neu Lopes) – 2007
Próximas Estreias
NHA ROSA DE MONTE VERDE (adaptação do conto tradicional) – Mindelact 2008
BLIMUNDO (adaptação do conto tradicional) – 2008
O FEITICEIRO DE SANTO ANTÃO (adaptação do conto tradicional) – 2009
Um comentário:
Bom trabalho primão(s)...Força!
Pena cum ca ta là pa assisti es "chef d'oeuvre"...
Braça
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